Mudez perversa
Poema de Cruz e Souza
Que mudez infernal teus lábios cerra
Que ficas vago, para mim olhando,
Na atitude da pedra, concentrando,
No entanto, na alma convulsões de guerra!
A mim tal fel essa mudez encerra,
Tais demônios revéis a estão forjando,
Que antes te visse morto, desabando
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.
Não te quisera nesse atroz e sumo
Mutismo horrível que não gera nada,
Que não diz nada, não tem fundo e rumo.
Mutismo de tal dor desesperada
Que, quando o vou medir com o estranho prumo
Da alma, fico com a alma alucinada!
Fonte: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.
Originalmente publicado em: "Últimos sonetos", Aillaud & Cia , 1905.