As graças
Poema de Silva Alvarenga
Se aparece Glaura bela,
Vejo as graças melindrosas
Que jasmins, lírios e rosas
Desfolhando alegres vêm.
O prazer dissipa as mágoas,
Os desgostos e os ciúmes:
Enche o ar de mil perfumes
Que nas brancas asas tem.
Leva, amor, os meus gemidos
Aos ouvidos do meu bem.
De vós, dríades formosas,
Saiba Glaura os meus amores;
Dai-lhe conchas, dai-lhe flores,
Dai-lhe lágrimas também.
Ah! pintai-lhe nesta fonte
Que será minha ventura,
Se nos braços da ternura
Deixa amante o seu desdém.
Leva, amor, os meus gemidos
Aos ouvidos do meu bem.
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.