Tela íntima
Poema de Zalina Rolim
Eu penso nele como a gente pensa
Na quietação de um ninho solitário
Sob a frescura de folhagem densa.
- Misterioso, íntimo santuário! -
E assim como se entrasse num asilo
Inviolável, puro, eterno e santo,
Vara-lhe o peito meu olhar tranquilo;
Chega à sua alma e, em delicioso encanto,
Nesse ideal jardim de etéreas flores
Para extasiado, trêmulo de espanto:
- Não rendilhados finos ou lavores
Custosos, lambrequins de raro artista,
Mármores, telas, faustos, esplendores...
Nada que em fúteis ouropéis consista;
- Gala que o mundo crédulo apregoa,
Pompa inútil e vã, luxo da vista;
Mas a fiel serenidade boa,
A angelitude sã da natureza,
Onde a alegria em flor desabotoa...
A placidez do céu que a alma surpresa
Num afã jubiloso sonha abstrata,
Livre de angústias, livre de tristeza.
Relvosos campos, múrmura cascata,
Límpido céu eternamente manso
Que o coração de luz enche e dilata;
Reflexos louro-pálidos... remanso
De tardes boas, luminosas, claras;
Da natureza mística o descanso.
Leves rumores de penugens raras;
Trêmulos cantos de avezinha; adejos...
E a profundeza quieta das searas.
Do sol poente os últimos lampejos,
Na superfície da água lisa e pura,
Áureos semeiam luminosos beijos;
E no cristal do rio em vão procura
A perfídia espelhar-se, e a medo avança
Cupida a inveja a contemplar-lhe a alvura;
Em vão... tranquila, sonorosa e mansa
A correnteza alastra-se ligeira
Na pureza de um sonho de criança...
E a aspiração dulcíssima e fagueira,
- Chama do céu que me acalenta e acalma -
É ver traçada a minha vida inteira
Na diáfana brancura de sua alma.
Fonte: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
Originalmente publicado em: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
De indiferença frívola atingi-lo
Não pode estranho olhar profano e vário.
Não pode estranho olhar profano e vário.
E assim como se entrasse num asilo
Inviolável, puro, eterno e santo,
Vara-lhe o peito meu olhar tranquilo;
Chega à sua alma e, em delicioso encanto,
Nesse ideal jardim de etéreas flores
Para extasiado, trêmulo de espanto:
- Não rendilhados finos ou lavores
Custosos, lambrequins de raro artista,
Mármores, telas, faustos, esplendores...
Nada que em fúteis ouropéis consista;
- Gala que o mundo crédulo apregoa,
Pompa inútil e vã, luxo da vista;
Mas a fiel serenidade boa,
A angelitude sã da natureza,
Onde a alegria em flor desabotoa...
A placidez do céu que a alma surpresa
Num afã jubiloso sonha abstrata,
Livre de angústias, livre de tristeza.
Relvosos campos, múrmura cascata,
Límpido céu eternamente manso
Que o coração de luz enche e dilata;
Reflexos louro-pálidos... remanso
De tardes boas, luminosas, claras;
Da natureza mística o descanso.
Leves rumores de penugens raras;
Trêmulos cantos de avezinha; adejos...
E a profundeza quieta das searas.
Do sol poente os últimos lampejos,
Na superfície da água lisa e pura,
Áureos semeiam luminosos beijos;
E no cristal do rio em vão procura
A perfídia espelhar-se, e a medo avança
Cupida a inveja a contemplar-lhe a alvura;
Em vão... tranquila, sonorosa e mansa
A correnteza alastra-se ligeira
Na pureza de um sonho de criança...
E a aspiração dulcíssima e fagueira,
- Chama do céu que me acalenta e acalma -
É ver traçada a minha vida inteira
Na diáfana brancura de sua alma.
Fonte: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
Originalmente publicado em: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.