Spinoza
Poema de Machado de Assis
Gosto de ver-te grave e solitário
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário
E na cabeça a coruscante ideia.
E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar grangeia
E achas na independência o teu salário.
Soem cá fra agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas e executas
Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
Fonte: "Poesias Completas", Livraria Garnier Irmãos, 1902.
Originalmente publicado em: "Ocidentais", Livraria Garnier Irmãos, 1901.