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Poema de Souza-Andrade



Não te aterres de mim, fala um defunto
À virgem longos braços amorosos.
Eu já não vivo mais: vês como eu fujo
De ti, mugindo às solidões e às noites,
De monte em monte, como a fera errante?
Amo abraçar a rocha sonorosa. 
Quanto amava a mulher inda ontem mesmo.
Meu peito aquece a pedra e, destas mãos,
Afago as ondas suas que me cercam.
O bardo de ilusões, que ia cantando
Mimosos carmes do equador esplêndido
Pelas margens risonhas da esperança,
Acabou: tenho ódio aos céus, aos homens,
Troco a luz pela sombra e só respiro
Destruição e tempestade e morte!



Fonte: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.
Originalmente publicado em: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.