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Poema de Souza-Andrade



Inda é meu amor esse esqueleto,
Vive comigo : dou-lhe cor às faces;
Muito sorriso á boca descarnada;
Às órbitas sombrias moles olhos
Como de nuvens rodeado o sol;
Melifluas tranças à caveira branca,
Errando os crespos na aridez do peito
Que encho de frutos, de suspiros, vozes,
De um terno coração vibrando amante!
Mas... essência imortal não saiu delia:
Embalde interroguei mudo cadáver
E os ossos amarelos nem respondem!
Mas, aqui, a mulher não é perjura:
Só lembrança de amor santo evapora -
A beleza se forma ao pensamento,
À saudade suas vestias se derramam.



Fonte: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.
Originalmente publicado em: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.