A pomba
Poema de Silva Alvarenga
Pombo
Bela pomba, os dias crescem,
Aparecem já mil flores,
E os penhores ver espero
Do sincero nosso amor.
Pastor
Oh feliz enamorado,
Como és livre da desgraça!
De hora em hora mais te enlaça
Doce agrado e novo ardor.
A consorte (que ventura!)
Acompanhas meigo e rico;
Que às palhinhas no teu bico
A ternura dá valor.
Pombo
Bela pomba, os dias crescem,
Aparecem já mil flores,
E os penhores ver espero
Do sincero nosso amor.
Pastor
Preciosa lealdade
Sem repúdios, sem queixumes,
Sem desgostos nem ciúmes
Nem saudade nem temor!
A fortuna te proteja
Apartando os tristes lutos:
Teus implumes tenros frutos
Nunca veja o caçador.
Sem repúdios, sem queixumes,
Sem desgostos nem ciúmes
Nem saudade nem temor!
A fortuna te proteja
Apartando os tristes lutos:
Teus implumes tenros frutos
Nunca veja o caçador.
Pombo
Bela pomba, os dias crescem,
Aparecem já mil flores,
E os penhores ver espero
Do sincero nosso amor.
Pastor
Na mangueira fazem ninho:
Vês, ó Glaura, lá voltaram;
Foram juntos e pousaram
No raminho superior.
Eles tornam par ditoso!
Dize, ó ninfa; não te agrada
Ver a pomba acompanhada
Do amoroso rolador?
Pombo
Bela pomba, os dias crescem,
Aparecem já mil flores,
E os penhores ver espero
Do sincero nosso amor.
Pastor
Inocente idade antiga,
Tu fugiste dos humanos;
E deixaste a mágoa, os danos
E a fadiga e o rigor!
Ah! se o céu te convertesse,
Ninfa ingrata, em pomba amante;
Eu... que gosto! um só instante
Não quisera ser pastor.
Pombo
Bela pomba, os dias crescem,
Aparecem já mil flores,
E os penhores ver espero
Do sincero nosso amor.
Fonte: "Obras Poéticas", B. L. Irmãos Garnier, 1864.
Originalmente publicado em: "Glaura: poemas eróticos", Officina Nunesiana, 1799.