Nize - cantata V

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Poema de Cláudio Manuel da Costa



Não vejas, Nize Amada,
A tua gentileza
No cristal dessa fonte. Ela te engana;
Pois retrata o suave
E encobre o rigoroso. Os olhos belos
Volta, volta a meu peito:
Verás, tirana, em mil pedaços feito
Gemer um coração: verás uma alma
Ansiosa suspirar: verás um rosto
Cheio de pena, cheio de desgosto.
Observa bem, contempla
Toda a misera estampa. Retratada
Em uma cópia viva
Verás distinta e pura,
Nize cruel, a tua formosura.

Não te engane, ó bela Nize,
O cristal da fonte amena:
Que essa fonte é mui serena,
É mui brando esse cristal.

Se assim como vês teu rosto,
Visses, Nize, os seus efeitos,
Pode ser que em nossos peitos
O tormento fosse igual.



Fonte: "Obras poéticas", H. Garnier, 1903.
Originalmente publicado em: "Obras", 1768.