À minha amiga


Poema de Carmen Freire



Sabes dum mal que leva ao desvario,
Que faz do sono uma segunda vida
E torna o rosto mais jovial sombrio?

Que ao desespero o coração convida,
Que os olhos dilatando a vista encurta,
E, dando forças, toda a força embrida?

Sabes dum mal que a inteligência furta,
Que fala muito quando nada falia
E a mais extensa vida torna curta?

Que se um minuto uma ilusão embala
O nosso pensamento entre venturas,
Todo o prazer ele irrompendo cala?

Sabes dum mal que leva as criaturas
De pesar em pesar, de dor em dor
Por uma galeria de loucuras?

Dizes que é o ódio, eu digo que é o amor.



Fonte: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.
Originalmente publicado em: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.