A lástima

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Poema de Alvarenga Peixoto



Eu não lastimo o próximo perigo
Nem a escura prisão estreita e forte;
Lastimo os caros filhos e a consorte,
A perda irreparável de um amigo.

A prisão não lastimo, outra vez digo,
Nem o ver iminente o duro corte;
É ventura também achar a morte
Quando a vida só serve de castigo.

Ah! quão depressa então acabar vira
Este sonho, este enredo, esta quimera
Que passa por verdade e é mentira.

Se filhos e consorte não tivera
E do amigo as virtudes possuíra,
Só de vida um momento não quisera.


Fonte: "Obras Poéticas", Livraria B. L. Garnier, 1865.
Originalmente publicado em: dispersos em obras como "Parnaso Brasileiro", "Novo Parnaso Brasileiro", "Miscelânea Poética",, "Jornal Poético" e "Coleção de poesias", entre 1809 e 1855.