Frondosos cedros de outrora

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Poema de Souza-Andrade



Frondosos cedros de outrora
Que destes sombra ao meu gado,
Quando na calma do estio
Andava errante no prado;
        Piquizeiro envelhecido,
        Que lhes estendeste a ramada
        Cheia de trêmula sombra,
        Do tosco fruto envergada;

Meus campos de antigamente,
Que longas holas cercavam;
Bela colina, o penhasco
Que no ocidente enroxavam:
        Salve! - céus da natureza
        Só viva para chorar -
        Foste agigantada virgem,
        És murcho outono a esfolhar

Ó dias dos outros tempos!
Ó dias da minha aurora!
Como encantado me vistes,
Frondosos cedros de outrora!
        Brada a noite e despovoa
        Os negros cumes do céu;
        Os vossos vestidos novos
        Também a noite os rompeu.

Era o sol da minha idade,
Éramos gêmeos da selva,
Com ele brincava junto
Nestas campinas de relva:
        Às mesmas horas dormimos.
        Às mesmas nos despertaram,
        A mesma fonte banhou-nos,
        E as mesmas aves cantaram.

Eu era gêmeo com as palmas,
A crescer nos comparando -
Um dia achei-as mais altas,
Viram-me noutro as passando.
        Belo pássaro que amava
        Bateu as asas, voou:
        Aqui - nos pés destes troncos
        Minha existência findou....



Fonte: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.
Originalmente publicado em: "Harpas Selvagens", Tipografia Universal de Laemmert, 1857.