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Poema de Fernando Pessoa



Nas grandes horas em que a insônia avulta
Como um novo universo doloroso
E a mente é clara como um ser que insulta
O uso confuso com que o dia é ocioso,

Cismo, embebido em sombras de repouso
Onde habitam fantasmas e a alma é oculta,
Em quanto errei e quanto ou dor ou gozo
Me farão nada, como frase estulta.

Cismo, cheio de nada, e a noite é tudo.
Meu coração, que fala estando mudo,
Repete seu monótono torpor

Na sombra, no delírio da clareza,
E não há Deus, nem ser, nem Natureza,
E a própria mágoa melhor fora dor.



Fonte: 'Obra Poética', décima edição, Editora Nova Fronteira, 2001.