O vendaval


Poema de Carmen Freire



Ribomba a tempestade! Aos seus rugidos
Voz de tormenta estruge pelos ares,
E os troncos do arvoredo, seculares,
Juntam, caindo, aos dela os seus gemidos!

Fogem as aves aos cem mil bramidos
Da fúria que rolando vai nos mares;
E a triste procelária entre os algares
Do furacão se afasta entre vagidos.

Sibila o vendaval, troando o espaço
Como a rubra centelha do estilhaço
No campo ensanguentado da batalha!

Mas eu, que afeita vivo a fundas mágoas,
Não me aterro ao furor das negras fragas
Que o céu raivoso em chama ardendo espalha.



Fonte: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.
Originalmente publicado em: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.