Aventura no parque
Poema de Mario Quintana
No banco verde do parque, onde eu lia distraidamente o Almanaque Bertrand, aquela sentença pegou-me de surpresa: "Colhe o momento que passa". Colhi-o, atarantado. Era um não sei que, um flapt, um inquieto animalzinho, todo asas e todo patas: ardia como uma brasa, trepidava como um motor, dava uma angustiosa sensação de véspera de desabamento. Não pude mais. Arremessei-o contra as pedras, onde foi
logo esmigalhado pelo vertiginoso velocípede de um meninozinho vestido a marinheiro. "Quem monta num tigre (dizia, à página seguinte, um provérbio chinês) quem monta num tigre não pode apear."
Fonte: "Poesia Completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Sapato florido", 1948.