Alvorada
Poema de Zalina Rolim
Manhã de primavera; que alegria!
Nuns esplendores rútilos de gala,
Áureo e purpúreo desabrocha o dia;
E a natureza canta e sonha e fala...
Nuvens de um branco adelgaçado e fino,
- Véus de etéreo noivado - lentamente
Impele o frágil sopro matutino
Para as rúbidas bandas do oriente.
Longe, a perder de vista, amplo e rasgado.
De nova seiva túrgido, virente,
Ondula e treme o campanil, tocado
De flores rubras de um perfume quente.
Leve tremula e esgarça-se a neblina
Toda em farrapos, úmida e flutuante;
Intermitente, estrídula buzina
Ressoa ao longe, errática e vibrante.
No pacífico espaço luminoso
Estranhas curvas, misteriosas linhas
Traçam, no voo leve e caprichoso,
As caprichosas, leves andorinhas.
Em grupos cá e lá, pesadamente,
Ruminam nédios bois malhados, brancos;
Lambem, cerrando o morno olhar paciente.
Num abandono lasso, os próprios flancos.
Treme o relvado a um frêmito ligeiro:
- É o despertar do mundo-inseto... Agora
Desfaz-se todo e some-se o nevoeiro
À luz que doura o campo e o céu colora.
E ao costumeiro, habitual trabalho,
Cortando a estrada silenciosa e plana,
Segue um campônio pelo estreito atalho
Cantando alegre a jovial tirana.
Fonte: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.
Originalmente publicado em: "O Coração", Tipografia Hennies & Winiger, 1893.