Oásis do Sertão - a carnaúba
Poema de Júlia Lopes de Almeida
No deserto sem árvores, só ela,
Ereta e verde ao Sol, ao Sol resiste.
Do flagelo no horror, só ela é bela,
Na tristeza, só ela não é triste!
Quando a seca voraz tudo consome,
Queima, seca, devasta e assola, - vede:
É ela apenas que me mata a fome,
É ela ainda que me mata a sede!
Pois se em ondas de fogo, um Sol violento
Espalha em torno a assolação e a mágoa,
Dela tiro o meu único alimento,
Extraio dela as minhas gotas d'água.
E se fujo ao flagelo, com cansaço,
À luz de um Sol de chamas, que me assombra,
Só junto dela, como num regaço,
Posso, caindo ao chão, dormir á sombra.
*
Eu vi, ao percorrer essas estradas,
O negrejar das cruzes nos caminhos
E entre elas branquejarem as ossadas
Dos bois gigantes e dos passarinhos.
Bendita sejas tu, pois de ti perto
Não se abrem nunca os braços de uma cruz,
Carnaúba, palmeira do deserto,
Ilha verde de um mar de fogo e luz !
Fonte: "A Árvore", Livraria Francisco Alves, 1916.
Originalmente publicado em: "A Árvore", Livraria Francisco Alves, 1916.