Habilitação para a noite

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Poema de Carlos Drummond de Andrade



Vai-me a vista assim baixando
ou a terra perde o lume?
Dos cem prismas de uma joia,
quantos há que não presumo.

Entre perfumes rastreio
esse bafo de cozinha.
Outra noite vem descendo
com seu bico de rapina.

E não quero ser dobrado
nem por astros nem por deuses,
polícia estrita do nada.

Quero de mim a sentença
como, até o fim, o desgaste
de suportar o meu rosto.



Fonte: "Poesia completa", Editora Nova Aguilar, 2006.
Originalmente publicado em: "Fazendeiro do ar", 1954.