A folha do Salgueiro
Poema de Machado de Assis
Amo aquela formosa e terna moça
Que, à janela encostada, arfa e suspira;
Não porque tem do largo rio à margem
Casa faustosa e bela.
Amo-a porque deixou das mãos mimosas
Verde folha cair nas águas mansas.
Amo a brisa de leste que sussurra,
Não porque traz nas asas delicadas
O perfume dos verde pessegueiros
Da oriental montanha.
Amo-a porque impeliu com as tênues asas
Ao meu batel a abandonada folha.
Se amo a mimosa folha aqui trazida,
Não é porque me lembre à alma e aos olhos
A renascente, a amável primavera,
Pompa e vigor dos vales.
Amo a folha por ver-lhe um nome escrito,
Escrito, sim, por ela, e esse... é meu nome.
Fonte: "Poesias Completas", Livraria Garnier Irmãos, 1902.
Originalmente publicado em: "Falenas", Livraria Garnier Irmãos, 1870.