Trechos de 'Eu te amo'
Poema de Adélia Fonseca
Astro que tão poucos dias
O meu mundo alumiaste,
Tu, que nele refulgias
E tanto me fascinaste,
Porque fugiste tão cedo?
Por acaso houveste medo
De mais tempo aqui brilhar,
E foste, então, teus fulgores,
Distante de teus amores,
Noutra plaga derramar?
Não vês que a débil plantinha,
Privada do teu calor,
De saudade se definha,
Se definha de langor?
Não vês que viver não pode
Se um raio teu não acode
A sustentar-lhe o viver?
Não vês que sem teu cuidado
Este pesar extremado
Bem cedo a fará morrer?
Porque a dor lhe não evitas
Que a vai consumindo assim?
Mais que esta, a terra que habitas
Tem atrativos para ti?
Por isso lá permaneces?
É por isso que te esqueces
Da plantinha emurchecida,
Sem reparar que da triste
Aos tufões já não resiste
O tênue fio de vida?!
*
Não; não são os encantos da terra
Que te atraem, que te prendem, meu bem;
É a lei do invencível destino
Que distante de mim te retém.
E que encanto encontrar poderias,
Que atrativo acharias ali
Se de amor lá não vive quem faça
Tão subidos extremos por ti?
Nem quem busque mirar-se em teus olhos
Com a profunda, indizível ternura
Com que meu coração, enlevado,
Nesse espelho mirar-se procura.
*
Ah! dos Ecos da minh'alma,
Quando as folhas percorreste,
Essa frase encantadora
Impressa nelas não leste?
Não a viste nessa Queixa?
Nessa do Sonho ilusão?
Nos gemidos da Saudade?
No Delírio da paixão?
Nessa palavra que a esmo
Caía dos lábios meus
E que tão mago sorriso
Desafiava dos teus?
*
- Eu te amo - não leste mil vezes
No receio com que eu evitava
Teu olhar em que o siso perdia;
Que tão ébria de amor me prostrava?
Quando falas com o astro das noites
E de amor meigo olhar nele fitas;
Quando em brando silêncio o contemplas
E nos nossos amores meditas;
Minha vista suspensa não vês
Lá nos raios fulgentes da lua
Com enlevos de amor infinito
Procurando encontrar-se com a tua?
E depois, numa só confundidas,
Repassadas de imensa ternura,
A cismar como atônitas ficam,
Futurando sublime ventura?!
- Eu te amo - meus olhos te dizem,
E te dizem meus lábios também;
Teu olhar me responde: - Eu te amo -
No suave volver que ele tem.
Quanto amor cá na terra imaginas,
Quanto julgas que o céu pode ter,
De teus olhos ressumbra, meu anjo,
Resumido no doce volver.
Fonte: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.
Originalmente publicado em: "Ecos da Minh'alma", Tipografia Camillo de Lellis Masson, 1866.