Estrada cruel (de Serras e pântanos)
Poema de Jacinta Passos
Aqui começa a estrada
que o povo chamou de cruel,
doze léguas de chão seco
só de espinhos e de fel.
Espinheiro abraça a pedra
plantada na terra nua
desse abraço nascem flores
ó vida que força a tua!
Coroas-de-frade e só
cactos, mandacarus,
mais adiante umbuzeiros
sem folhas e sem umbus.
Chapadão entre as bacias
do Verde e do Jacaré,
por aqui marcha a Coluna
desmontada, marcha a pé.
Nem animais, nenhum pássaro
ó água que falta fazes!
Só répteis. Gitiranas
que surpresa! os tons lilases.
Já quando a noite era negra
e impossível o caminhar
ó lua-cheia no céu
ó aguada neste lugar.
Aqui Boca da Picada
três léguas do Jacaré,
Estrada Cruel, adeus
outro caminho aqui é.
Fonte: "Jacinta Passos, coração militante", Editora EDUFBA, 2010.
Originalmente publicado em: "A Coluna", Editora A. Coelho Branco, 1957.