A escrava


Poema de Carmen Freire



Pouco importa que esposa, mãe ou filha
A escrava seja! Tristes, negros fados
Ao grilhão de piratas condenados
Vincularam-lhe o pé que as urzes trilha!

Infeliz! Em que céu te luz ou brilha
O sol dos sonhos teus, gentis, dourados?
Em que terras ou climas afastados?
Em que sertões, em que deserta ilha?

Mulher e escrava! antítese de um crime
Que a vil cobiça humana fez nascer!
Que força pode ter o pobre vime!

Quem há que a mansa rola em seu gemer,
Duro algoz, a ferir cruel se anime?...
Folga, mulher, eis findo o teu sofrer.



Fonte: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.
Originalmente publicado em: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.