Alvorada de rosas
Poema de Henriqueta Lisboa
Tremulamente ao longe, em voluteios no ar,
sacode as asas o arrebol.
Hei de cantar, hei de cantar, hei de cantar
até que venha o sol!
Notas de ouro a tinir rolam no espaço, ao léu,
como um riso de criança.
E estrelas, a morrer entre os braços do céu,
vão levar a outros mundos a esperança.
Poeira azul de ilusões... Velas ao largo... Dessas
E estrelas, a morrer entre os braços do céu,
vão levar a outros mundos a esperança.
Poeira azul de ilusões... Velas ao largo... Dessas
ainda o rastro se vê de esteiras luminosas.
Estonteante certeza de promessas.
Alvorada de rosas!
Espanejando as plumas de ouro sobre o mar,
é como um pássaro o arrebol.
Hei de cantar, hei de cantar, hei de cantar
porque aí vem o sol!
Espumam taças de alegria. Seja
mentira tudo, que me importa?...
Entre o que a alma possui e o que ao sonho sobeja,
bendigo a vida que me bate à porta!
Névoas rasgadas pela mão do vento.
Tremem perfumes nas aleias mais tortuosas.
O amor que chega para o amor. Deslumbramento.
Alvorada de rosas!
A alma suspensa em luz no estandarte do olhar,
também sou luz deste arrebol!
Hei de cantar, hei de cantar, hei de cantar
porque já veio o sol!
Fonte: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.
Originalmente publicado em: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.