A alma da floresta

Imagem de Júlia Lopes de Almeida

Poema de Júlia Lopes de Almeida



Quando a treva, noite alta, envolve os cumes,
No silêncio da selva sossegada
Surge a Alma da Floresta, acompanhada
Por um enorme séquito de numes.

Dão-lhe as flores o incenso dos perfumes
E, como se chovesse luz, dourada
A floresta resplende, iluminada
Por milhões e milhões de vaga-lumes.

Parece feita de luar e bruma.
As árvores visita, de uma em uma,
Sutil como o murmúrio de uma prece.

E quando surge o Sol, diáfana e leve,
Dissipa-se na luz e, alva de neve,
Como um sonho se esvai, desaparece.



Fonte: "A Árvore", Livraria Francisco Alves, 1916.
Originalmente publicado em: "A Árvore", Livraria Francisco Alves, 1916.