Abraço eterno


Poema de Carmen Freire



Desceu a noite silenciosa e triste...
Muda, tremula, fria e cautelosa:
Ela, palpando as trevas, busca ansiosa...
O que ela ansiosa em procurar persiste?

Nenhum rumor escuta. Pressurosa
Tateia, experimenta, volta, insiste
E entra na terra onde ninguém existe:
Frio suor detém-na angustiosa.

Abre um caixão, em lágrimas desfeita,
Treme, soluça e rápida se deita
Nos hirtos braços do finado amante.

Tem medo, quer fugir e perde a fala:
Quer fugir, mas o morto, nesse instante,
Fecha-a nos braços pra não mais soltá-la.


Fonte: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.
Originalmente publicado em: "Visões e Sombras", Casa Mont'alverne, 1897.