65. Árido Chorroró


Poema de crroma



A chuva não traz o verde
no interior de Chorrochó.
Os paus morreram todos,
mata não tem mais:
sobra um tabuleiro
de vegetação rala,
de galhos petrificados
que não florescem.

As crianças do passado
conviviam com mais chuva.
Tinha a verde caatinga, suas sombras,
tinha águas, plantações.
Agora dá uma chuvinha
que do solo quente desprega,
não vai pra frente o legume,
nem o milho nem feijão.

Em Chorrochó um planeta se altera.
Caatinga desapareceu no árido,
em temperaturas que se elevam.
As braúnas acabaram,
os umbuzeiros, as imburanas,
acabaram as quixabeiras,
várias espécies de abelhinhas
já não se conhecem.

Teima o mandacaru, persiste
em castos fragmentos.
Ele também sob ameaça
de desaparecer como os bichos,
as pujantes plantas, os cultivos,
como desaparecem as gentes
porque não se há de ficar.
O território seca tudo.

Famílias de estiagens
sofridas, de travosos costumes,
padecem pelo árido
que se progressa pior,
que insípido mina
o persistir sertanejo
- catingueiros perdidos
da esperança no verde.




(Da Folha de São Paulo: 'Famílias da primeira região árida do Brasil sofrem com seca agravada por mudança climática')