Vento
Poema de Manoel de Barros
Se a gente jogar uma pedra no vento
Ele nem olha para trás.
Se a gente atacar o vento com enxada
Ele nem sai sangue da bunda.
Ele não dói nada.
Vento não tem tripa.
Se a gente enfiar uma faca no vento
Ele nem faz ui.
A gente estudou no Colégio que vento
é o ar em movimento.
E que o ar em movimento é vento.
Eu quis uma vez implantar uma costela
no vento.
A costela não parava nem.
Hoje eu tasquei uma pedra no organismo
do vento.
Depois me ensinaram que vento não tem
organismo.
Fiquei estudado.
Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "Poemas rupestres", 2004.
Fonte: "Poesia Completa", Editora Leya, 2010.
Originalmente publicado em: "Poemas rupestres", 2004.