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Poema de Jorge de Lima



Repõe em ti a clâmide cinzenta,
cobre os olhos com a névoa da memória
sobre a roda perene, lenta. lenta:
Agita-a a mão, a mão propiciatória,

A mão tangendo a lenda dessa história.
Que foi melhor? A rosa sonolenta?
O tule antigo, a túnica incorpórea?
Havia um rio aqui, de água violenta,

e acolá uma torre com andorinhas,
e o não terrível dentro do missal,
as promessas de cera, o mau assombro.

E sempre a morte com dedais e linhas,
e a lágrima travosa com seu sal,
e a mão do avô pousada no teu ombro. 



Fonte: "Obra Poética", Editora Getulio Costa, 1949.
Originalmente publicado em: "Livros de Sonetos", Livros de Portugal S. A, 1949.