O inimigo

Imagem da poeta Jacinta Passos

Poema de Jacinta Passos



A Coluna descansou
da marcha, na noite fria.

Ficaram olhos acesos
e a fogueira, de vigia.

       Su su su
       menino mandu
       dorme na lagoa
       sapo-cururu

Soldados dormem quietos
Debaixo deste telheiro

em cima pia a coruja
com seu piado agoureiro.

       Su su su
       menino mandu

Soldados dormem quietos
no bivaque de improviso

até as armas descansam
que este descanso é preciso.

       Dorme na lagoa
       sapo-cururu

Soldados dormem quietos
na barraca e na varanda,

eis de repente o inimigo
- Depressa, levanta e anda!

Depressa, são feras,
depressa ou quiseras
nas mãos do inimigo
cair, que o perigo
de perto ameaça
de morte ou mordaça
cadeia ou degredo.

Galopa sem medo!

Legalista do Inferno!
donde o Governo
tais feras tirou?

Ah! raiva que eu sou.

Depressa e a trote
esporas, chicote,
as crinas revoltas,
de rédeas bem soltas
e bridas também
(Que medo não tem!)
depressa e a trote
mão no cabeçote
o pé na estribeira
encilha e carreira!
esquipa montado
depressa, soldado
que medo não tem.

Legalista do inferno
não vale um vintém!

A Coluna descansou
da marcha na noite fria.

Ficaram olhos acesos.
E de repente partia.



Fonte: "Jacinta Passos, coração militante", Editora EDUFBA, 2010.
Originalmente publicado em: "A Coluna", Editora A. Coelho Branco, 1957.