Frágil amor

Imagem Henriqueta Lisboa

Poema de Henriqueta Lisboa



O nosso amor é frágil como a névoa
que se desfaz ao sol pela manhã.
Toda a ternura da minha alma, levo-a,
mas se esvai no caminho, porque é vã...

Se ao longe os olhos cismadores ponho,
perco-o de vista: foge para o mar...
Mas se te fito, acaso, o olhar tristonho,
sinto-o boiando à flor do meu olhar...

Fulge dentro de nós por um momento,
mas porque é todo de perfume, passa,
leve como uma pluma entregue ao vento
ou a interrogação de uma fumaça.

Devaneio e langor de horas sutis,
sonhar contigo é tudo quanto quero.
O amor que faz a gente assim feliz,
provavelmente, não será sincero...

Na verdade, se é frágil este amor
é que a gente na vida, sem querer,
tem uma história por compor
e outra por esquecer...



Fonte: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.
Originalmente publicado em: "Enternecimento", Paulo Pongetti Editora, 1929.