41. Baratas de Lisboa


Poema de crroma



Chegado o fim de Agosto, Luísa Moura estava farta.
As baratas continuam.
Elas aparecem na cozinha, no corredor.
Suas compridas antenas são milhares de narizes à procura.

Longe das luzes, entre entulhos,
fendas, armários,
encontram nas casas condições ótimas para viver,
encontram alimento e água, os maiores atrativos.

O calor encurtou o ciclo de vida
entre a postura de ovos e o indivíduo adulto.
Porque rapidamente se multiplicam,
a população de baratas não para de crescer.

E quanto mais se dispara inseticida,
mais as baratas se escudam,
seus genes se adaptam
e o veneno perde efeitos.
Maltratada, a barata resiste.

Em Lisboa se difundiram
dentro e fora das casas
grandes baratas voadoras.
Elas saem dos sanitários, saem dos esgotos,
saem de todos os lados,
andam a perturbar as pessoas
nos verões cada vez mais longos.

As baratas conosco sempre estiveram,
ficarão sempre
- não há como evitá-las.
Elas são as convivas
de nossa desequilibrada cidade,
de sua ausência
de natural diversidade.
Uma cidade tão das gentes
quanto delas.




(a partir da notícia 'Há cada vez mais baratas em Lisboa. Estamos condenados a viver com elas?', da TimeOut Portugal)
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