35. Cataclismo


Poema de crroma



Há uma crise em andamento,
uma crise dos sentidos:
estamos catatônicos.
Rompemos a natureza, de seu interior
extraímos cataclismos
que sequer reconhecemos.
A eles chamamos de extremos,
de graves, severos.

Testemunhamos inertes
e aos poucos nos acostumamos
à outra catástrofe impondo
uma dor sem precedentes.
A enchente deixou de ser enchente,
o fogo deixou de ser fogo,
a estiagem, de ser estiagem,
apenas diferentes dialetos
do cataclismo que não vemos,
porque elegemos a perda em lugar da mudança.

E ainda são os mesmos,
a chuva continua sendo a mesma,
impassível a nosso erro
de considerá-la anômala.
Caiu a chuva,
encharcou profundos campos vermelhos,
desmoronaram as encostas íngremes,
varrendo os solos pelo vale dos rios.

A enchente estragou os cultivos,
afogou a criação,
fez estradas intransitáveis, sem pontes.
As partes baixas da metrópole inundaram,
suspendendo-se eletricidade e água potável.
Um bairro submergiu em esgoto.
O hospital teve que evacuar seus pacientes.
O terminal rodoviário, o aeroporto fechados.
O último cataclismo veio cobrar seus tributos.




(da artigo 'Aprendendo com um desastre climático: as enchentes catastróficas no sul do Brasil', da Rede Estação Democracia)
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