Retrato
Poema de Manuel Bandeira
O sorriso escasso,
O riso-sorriso,
A risada nunca.
(Como quem consigo
Traz o sentimento
Do madrasto mundo.)
Com os braços colados
Ao longo do corpo.
Vai pela cidade
Grande e cafajeste,
Com o mesmo ar esquivo
Que escolheu nascendo
Na esquiva Itabira.
Aprendeu com ela
Os olhos metálicos
Com que vê as coisas:
Sem ódio, sem ênfase,
Às vezes com náusea.
Ferro de Itabira,
Em cujos recessos
Um vedor, um dia,
Um vedor - o neto -
Descobriu infante
As fundas nascentes,
O veio, o remanso
Da escusa ternura.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Opus 10", 1952.
Fonte: "Antologia Poética", Editora Nova Fronteira, 2001.
Originalmente publicado em: "Opus 10", 1952.