Lira XVII (parte II)

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Poema de Thomaz Antônio Gonzaga



Se lá te chegarem
Aos ternos ouvidos
Uns tristes gemidos,
Repara, Marília,
Verás que são meus.
Ah! dá-lhes abrigo,
Marília, nos peitos;
Aqui os conserva
Em laços estreitos
Unidos aos teus.

O vento ligeiro,
De ouvi-los movido,
Os pede a cupido,
Que a todos apanha,
E lá todos vai por.
Ah não os desprezes,
Porque se conspira
O céu em meu dano,
E a gloria me tira
De honrado pastor.

Tem estes suspiros
Motivo dobrado:
Perdi o meu gado;
Perdi, que mais vale,
O bem de te ver.
Se os não receberes,
Amante por hora,
Por serem de um triste,
Os deves, pastora,
Por honra acolher.

Virá, minha bela,
Virá uma idade,
Que, vista a verdade,
Gostosa me entregues
O teu coração.
Os crimes desonram
Se são existentes;
Os ferros, que oprimem
As mãos inocentes,
Infames não são.

Chegando este dia,
Os braços daremos:
Então mandaremos
De gosto e ternura
Suspiros aos céus.
Pôr-me-ão no sepulcro
A honrosa inscrição:
"Se teve delito,
Só foi a paixão,
Que a todos faz réus."



Fonte: "Marília de Dirceu", Irmãos Garnier Editores, 1862.
Originalmente publicado em: "Marília de Dirceu", 1792.