Lira VIII (parte II)
Poema de Thomaz Antônio Gonzaga
De que te queixas,
Língua importuna?
De que a fortuna
Roubar-te queira
O que te deu?
Este foi sempre
O gênio seu.
Levou, Marília,
A ímpia sorte
Catões à morte;
Nem sepultura
Lhes concedeu.
Este foi sempre
O gênio seu.
A outros muitos,
Que vis nasceram,
Nem mereceram,
A grandes tronos
A ímpia ergueu.
Este foi sempre
O gênio seu.
Espalha a cega
Sobre os humanos
Os bens e os danos,
E a quem se devam
Nunca escolheu.
Este foi sempre
O gênio seu.
A quanto é justo
Jamais se dobra,
Nem igual obra
Com os mesmos deuses
Do claro céu.
Este foi sempre
O gênio seu.
Sobe ao céu Vênus
Num carro ufano;
E cai Vulcano
Da pura esfera
Em que nasceu.
Este foi sempre
O gênio seu.
Mas não me rouba
Bem que se mude,
Honra e virtude:
Que o mais é dela,
Mas isto é meu.
Este foi sempre
O gênio seu.
Fonte: "Marília de Dirceu", Irmãos Garnier Editores, 1862.
Originalmente publicado em: "Marília de Dirceu", 1792.