Cantar

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Poema de Cecília Meireles



Cantar de beira de rio;
água que bate na pedra,
pedra que não dá resposta.

Noite que vem por acaso,
trazendo nos lábios negros
o sonho de que se gosta.

Pensamento do caminho,
pensando o rosto da flor
que pode vir, mas não vem.

Passam luas - muito longe,
estrelas - muito impossíveis,
nuvem sem nada, também.

Cantar de beira de rio:
o mundo coube nos olhos,
todo cheio, mas vazio.

A água subiu pelo campo,
mas o campo era tão triste...
Ai!
Cantar de beira de rio.



Fonte: "Viagem", Editora Ocidente, 1942.
Originalmente publicado em: "Viagem", 1939.