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Poema de Jorge de Lima



Perdidamente para a noite segues
dentro da quieta solidão cativa,
e te diluis nas trevas fugitivas,
Ofélia imersa em repentino cais.

Já te encontras ubíqua e intemporal,
sempre alheada como estátua cega,
sacerdotisa e musa em desvario,
circundada da luz de espelhos frios.

Estão teus olhos turvos dessa bruma
que vem das coisas vagas esfumadas
das distâncias das asas inda implumes.

Na penumbra que iguala a noite ao dia,
tu és como um poema sempre começado
de sortilégios e melancolia.



Fonte: "Obra Poética", Editora Getulio Costa, 1949.
Originalmente publicado em: "Livros de Sonetos", Livros de Portugal S. A, 1949.