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Poema de Jorge de Lima
Eis que há o pêndulo e há a corda que atravessa
a sala e a vibração da voz ansiada.
e a onda sonora que a procura dessa
voz em consolo jaz desencantada.
Entre as cordas distensas se arremessa
outra onda em duas ondas desdobrada.
Não há força nenhuma que as impeça:
é uma voz que procura a voz amada.
E vê-se agora a face que aparece
entre a lâmpada e o piano, e a mão de neve
esvoaçando nas teclas como uma ave.
Mas o encanto se esvai, pois alvorece:
A face é menos nítida, e a mão leve,
que esvoaçava nas teclas. mais suave.
Fonte: "Obra Poética", Editora Getulio Costa, 1949.
Originalmente publicado em: "Livros de Sonetos", Livros de Portugal S. A, 1949.