Uma mensagem
Poema de Beatriz Francisca de Assis
Amor, perdoa a confiança;
De ti um serviço espero:
Não m’o recuses; eu quero
Que o meu bem vás procurar.
Ninguém como tu conhece
As penas que sofro ausente,
A dor que este peito sente
Só tu a podes pintar.
Vai mostrar ao meu amado
As setas inda fumantes
Que de meu peito, estilantes,
Acabaste de arrancar.
Pinta-lhe as duras prisões
Que arrasto cativa e presa;
E a viva chama acesa
Em que me vês abrasar.
E se és piedoso aos tormentos,
Que sofro nestes retiros,
Pinta também meus suspiros,
E meu contínuo penar.
Pinta-lhe as lagrimas tristes
De que vês banhar meu rosto,
Meus pesares, meu desgosto
Vê se podes retratar.
Dize-lhe que nesta ausência
Choro sem consolação;
Mostra-lhe minha aflição,
E quanto o sei adorar.
Mas se ingrato aos meus suspiros,
Não vem logo consolar-me,
O cuidado de vingar-me
Só a ti deve tocar.
Crava-lhe farpões pungentes,
Lacera-lhe o coração;
Não te faça compaixão
Quem me quer tiranisar.
Fonte: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.
Originalmente publicado em: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.