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Imagem da poeta Beatriz Francisca de Assis

Poema de Beatriz Francisca de Assis



Sigam amor por seu gosto
Os mimosos da ventura
Que, sem conhecer-lhe os danos,
Dizem que amor tem doçura.

O seu veneno mortal
Por meu mal o provei cedo;
Esse deus tão meigo e doce
Para mim foi sempre azedo.

Conservei sempre em meu peito
Puro amor, viva ternura;
Outros, que nunca sentiram,
Dizem que amor tem doçura.

São suspeitos seus agrados,
E já deles tenho medo;
Não o creio, que o seu mel
Para mim foi sempre azedo.

Tenho nos laços de amor
Provado tanta amargura,
Que não ouço os que insensatos
Dizem que amor tem doçura.

Em amor tudo é amargo,
Tudo é dor, sustos e enredo;
Amor, mesmo em seus agrados,
Para mim foi sempre azedo.

Lindos e fagueiros olhos
Cheios de amor e ternura,
Não os creio quando meigos
Dizem que amor tem doçura.

O meu coração no peito
Palpita e geme em segredo;
Teme amor; pois seu prazer
Pura mim foi sempre azedo.

Mas apesar de teme-lo,
Sinto amor, sinto ternura,
E sigo os mesmos, que errados,
Dizem que amor tem doçura.

Conheço o erro em que vivo;
Mas a seus encantos cedo;
Não é doce? não o estranho;
Para mim foi sempre azedo.



Fonte: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.
Originalmente publicado em: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.