Campo Limpo
Poema de Jacinta Passos
Quando vejo, ondulando ante os meus olhos,
os teus campos banhados pelo sol,
o ardor da seiva rebentando nessa natureza viva,
a doçura do teu céu na hora crepuscular,
a sombra negra das árvores que se alongam como fantasmas quando a noite desce,
a profundeza insondável das tuas noites estreladas,
quando vejo o esplendor de tua beleza,
sinto, inesperada, uma estranha alegria,
como se encontrasse
um pedaço vivo de mim mesma.
Campo Limpo,
as tuas paisagens se identificaram
com todas as vibrações de minha vida amanhecente.
As tuas paisagens parecem humanas.
Parece humano o murmúrio do vento nas tuas árvores seculares
e a branca silhueta da velha casa antiga.
Tuas paisagens revivem a minha vida já morta,
todos os instantes perdidos para sempre
e que eu quisera integrados num momento eterno.
Como a árvore que dá sombra e flor e fruto
esconde as raízes na terra de onde veio,
estão mergulhadas no teu solo
as raízes mais profundas do meu ser.
Fonte: "Jacinta Passos, coração militante", Editora EDUFBA, 2010.
Originalmente publicado em: "Nossos Poemas", Editora Bahiana, 1942.