Vencida
Poema de Júlia Cortines
Eis-te, enfim, vitoriosa, ó Dor, ó implacável
E eterna companheira,
Que caminhaste sempre a meu lado, incansável,
Pela existência inteira!
Como d’antes, o olhar levantado não tenho,
Num varonil impulso,
Perante o teu sombrio e atormentado cenho
E o teu gesto convulso.
Do grande mundo ideal das ilusões proscrita,
Sobre as asas da crença,
Voar, longe de ti, a uma plaga bendita,
Já minha alma não pensa;
Tão amargo e profundo é o que ela agora sente...
Ante essa arma homicida
Que empunhaste afinal, vitoriosa e potente,
Eu me curvo vencida.
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Vibrações", Laemmert &C, 1905.