Aos meus concidadãos

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Poema de Beatriz Francisca de Assis



De mesquinha instrução fruto mesquinho
Em meus cantos singelos vos ofereço,
Caros concidadãos; e a vós, mais bela,
Mais amável porção da humanidade;
Delícia dos mortais e seu tormento;
Sensíveis, carinhosas brasileiras.
Do estro meu premissas amorosas
Do íntimo do peito vos dedico;
São delírios de inábil juventude,
Extremos da paixão que a tantos mata,
Alegria e verdugo da existência
Onde a sorte despótica franqueia
Momentos de prazer, anos de mágoa;
E o ente apaixonado e delirante,
Exultando uma vez, muitas gemendo,
Vê deslisar o tempo entre os balanços
De esperança falaz e certos males!

Meu fiel coração vede em meus versos:
Lede, concidadãos; julgai propícios
Os cantos juvenis de uma patrícia
Que sem prévia lição, sem norte, ou guia
Meditou solitária e sem socorro
De amiga mão que os erros lhe emendasse.
E que mais de uma vez viu consumidos
Por carvões devorantes os folhetos
Onde de seus estudos e vigílias
Os frutos tão queridos conservava!
Por um prejuízo vão, mas arraigado,
Negava-se instrução ao sexo amável;
Como se, conhecendo-se o perigo,
Não se está mais a alcance de evitá-lo!
Perseguição sofri tão aturada,
Que só do gênio a obstinada força
Vencer podia obstáculo tão fero!
Corajosa lutei, e se o triunfo
Não consegui completo, ao menos tive
A gloria da firmeza nos desgostos,
Nas privações, nas mil contrariedades
Com que atalhar quiseram a carreira
À que um violento impulso me impelia.
Eis, da minha constância vos ofereço
O contestado fruto; pouco vale,
Mas valor lhe dará vossa indulgência,
E serão bem aceitos como oferenda
De uma patrícia, de uma brasileira.



Fonte: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.
Originalmente publicado em: "Cantos da Mocidade", Casa Imperial, 1856.