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Poema de Gregório de Matos



Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 

Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-nos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e, já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 



Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.