Juriti

Imagem de Casimiro de Abreu

Poema de Casimiro de Abreu



Na minha terra, no bulir do mato,
               A juriti suspira;
E como o arrulo dos gentis amores,
São os meus cantos de secretas dores
               No chorar da lira.

De tarde a pomba vem gemer sentida
               Á beira do caminho ;
- Talvez perdida na floresta ingente -
A triste geme n'essa voz plangente
               Saudades do seu ninho.

Sou como a pomba, e como as vozes d'ela
               É triste o meu cantar;
- Flor dos trópicos - cá na Europa fria
Eu definho, chorando noite e dia
               Saudades do meu lar.

A juriti suspira sobre as folhas secas
               Seu canto de saudade;
Hino de angustia, férvido lamento,
Um poema de amor e sentimento,
               Um grito d'orfandade!

Depois... o caçador chega cantando,
               À pomba faz o tiro...
A bala acerta e ela cai de bruços,
E a voz lhe morre nos gentis soluços,
               No final suspiro.

E como o caçador, a morte em breve
               Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida,
Irei sozinho, a voz desfalecida,
               Dormir no meu jazigo.

E- morta - a pomba nunca mais suspira
               À beira do caminho;
E como a juriti, - longe dos lares -
Nunca mais chorarei nos meus cantares
               Saudades do meu ninho!



Fonte: "Obras Completas", B L Garnier, 1887.
Originalmente publicado em: "Primaveras", 1858.