Horóscopo
Poema de Cecília Meireles
Deviam ser Vênus
e Júpiter, sim,
que ao menos, ao menos,
olhassem por mim,
gerando caminhos
claros e serenos
por onde passar
quem vinha nutrida
de secretos vinhos,
perdida, perdida,
de amor e pensar.
Saturno, porém,
Saturno, o sombrio,
se precipitou.
Não sabe ninguém
que rio, que rio
de luto circunda
a terra profunda
que piso e que sou;
que noite reveste
o mundo em que passo
e os mundos que penso...
Que longo, alto, imenso,
calado cipreste
sobe, ramo a ramo,
entre o meu abraço
e o abraço que amo!
Fonte: "Viagem", Editora Ocidente, 1942.
Originalmente publicado em: "Viagem", 1939.