Dor secreta
Poema de Júlia Cortines
Musa, cerra o teu lábio, e, indiferente e enxuto,
Abre o límpido olhar.
Que essa dor, que te morde o coração em luto
E que o faz sufocar,
Nem de leve contraía o teu plácido rosto.
Cala o acerbo sofrer.
Cala, Musa, esse amargo e profundo desgosto
Pior do que o morrer.
Nem uma queixa, um grito, uma súplica, um canto,
O revele jamais.
O momento chegou de reter o teu pranto
E abafar os teus ais.
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Vibrações", Laemmert &C, 1905.