E pois cronista sou
Poema de Gregório de Matos
Se souberas falar também falarás,
também satirizaras se souberas,
e se foras poeta, poetaras.
Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero das culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar
por quem de mim não tem mágoa?
Verdades direi como água,
porque todos entendais,
os ladinos e os boçais,
a Musa praguejadora.
Entendeis-me agora?
Permiti, minha formosa,
que esta prosa envolta em verso
de um Poeta tão perverso
se consagre a vosso pé,
pois rendido à vossa fé
sou já Poeta converso
Mas amo por amar, que é liberdade
Fonte: "Obra Poética", Editora Record, 1992.
Originalmente publicado em códices da segunda metade do século XVII.