A um coração

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Poema de Júlia Cortines



Dize: o que é que te eleva agora, e te sustenta
Acima, indiferente à fúria da tormenta,
E te faz, descuidoso e feliz, palpitar,
Surdo ao bravo clamor do atormentado mar?
A esperança? Nem hás de entrever a esperança
Como um raio de sol através de uma frança.
Na taça que a beber o futuro te der
Leve saibo de mel não sentirás, sequer.
Nunca mais sob um céu azul de primavera
Verás abrir-se a flor da divina quimera!
Nunca mais! E, contudo, um estranho sentir
Te levanta, e te faz palpitar, e fremir...



Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Vibrações", Laemmert &C, 1905.