Anfitrite
Poema de Francisca Júlia
Louco, às doudas, roncando, em látegos, ufano,
o vento o seu furor colérico passeia...
enruga e torce o manto à prateada areia
da praia, zune no ar, encarapela o oceano.
A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
perdida ao longe, como um pássaro que anseia,
alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.
Sossega o vento; cala o oceano a sua mágoa;
surge, esplêndida, e vem, envolta em áurea bruma,
Anfitrite, e, a sorrir, nadando à tona d’água,
lá vai... mostrando à luz suas formas redondas,
sua clara nudez salpicada de espuma,
deslizando no glauco amículo das ondas.
Fonte: "Poesia reunida de Francisca Júlia", escamandro, 2015.
Originalmente publicado em: "Esfinges", Bentley Junior Editor, 1903.