A Tempestade
Poema de Júlia Cortines
Negro bulcão, acumulado a custo
Rola com seco e trêmulo ruído,
Enquanto uma ave, que acelera o susto,
Rompe os ares num voo distendido.
No tronco ereto, sólido, robusto,
O látego do vento, sacudido
Com força, estala, e o verga enfurecido;
E torce e quebra o delicado arbusto.
Convulso espanto a natureza envolve.
O adensado vapor, que se dissolve
Em grossas gotas, que caindo vão,
Cerra a toalha líquida e confusa...
Ruivo corisco, que a recorta e cruza,
Abre no espaço um vívido clarão...
Fonte: "Versos; Vibrações", Academia Brasileira de Letras, 2010.
Originalmente publicado em: "Versos", Tipografia Leuzinger, 1894.